quarta-feira, 6 de março de 2013

O grande amigo


Ontem morreu um amigo de Portugal. Ou pelo menos de bastantes portugueses. As reacções, mais que muitas, mostram isso mesmo: Paulo Portas quis «sublinhar» as «provas de amizade com Portugal»; o Partido Socialista, além de referir a amizade, vai mais longe e «presta-lhe homenagem»; Mário Lino está «muito pesaroso»; o PCP, evidentemente, «honra a memória» do senhor. Mas não se pense que Chávez era apenas um amigo de Portugal. Tinha outros amigos. Durão Barroso, que ainda é Presidente da Comissão Europeia, elogiou o «desenvolvimento social» da Venezuela; Hollande, no meio de «profundas e sentidas condolências ao povo venezuelano», aponta a «luta pela justiça e desenvolvimento», os nossos bons vizinhos espanhóis falam numa «grande personalidade». É isto. Chávez morreu e todos lamentam. As democracias liberais lamentam a morte de um ditador cuja principal ocupação foi comprá-las com dinheiro fácil. Isso antes de qualquer cuidado com o «desenvolvimento social» do que quer que seja. Das «relações comerciais» e restantes «amizades» sobra um povo na miséria, favelas abjectas, prisões impenetráveis, presos e exilados políticos, além da criminalidade e da violência da vida habitual. Se há moral a retirar de tudo isto, é a de que tendemos, colectivamente, a ser uns grandes filhos-da-puta.

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